2º Enebom discute atuação feminina nas forças de segurança 29/11/2023 - 19:00

Discutir e fomentar políticas públicas relacionadas à atuação feminina nas atividades militares, especialmente no Corpo de Bombeiros Militar do Paraná (CBMPR), foram os principais objetivos do 2º Encontro Estadual de Bombeiras Militares (2º Enebom), realizado entre terça (28) e quarta-feira (29), em Curitiba. O evento, que teve o apoio da Secretaria Estadual da Mulher, Igualdade Racial e Pessoa Idosa (SEMIPI), recebeu cerca de 300 pessoas no Salão de Atos do Parque Barigui, incluindo profissionais de todas as instituições de segurança pública do Paraná – além das bombeiras, foram convidadas integrantes das polícias Militar, Civil, Científica, Penal e da Guarda Municipal de Curitiba. A programação incluiu palestras e trocas de ideias sobre dificuldades, experiências e avanços nessa área.

“Esse evento trata de pautas importantes não somente para a Corporação, mas para o mundo em que vivemos. Vem fortalecer, unir mais ainda as bombeiras, e reforçar a elas que o Comando do Corpo de Bombeiros está voltado, com atividades, com o pensamento, à força que tem a mulher dentro da Corporação”, comentou o comandante-geral do CBMPR, coronel Manoel Vasco de Figueiredo Junior.

Presente ao encontro, a secretária da Mulher, Igualdade Racial e da Pessoa Idosa, deputada federal Leandre Dal Ponte, destacou o papel das bombeiras militares não só no atendimento à sociedade, mas como modelo para a população feminina do Paraná. “Cada vez mais a gente precisa preparar as mulheres, cada vez mais a gente precisa inspirar as mulheres e eu não tenho dúvidas que as mulheres bombeiras do Paraná são as maiores fontes de inspiração para mulheres e meninas do nosso estado”, opinou. Segundo ela, encontros como este motivam as profissionais e ajudam a estimular a entrada das mulheres em carreiras cada vez mais desafiadoras, “promovendo o desenvolvimento sustentável e, com isso, uma sociedade mais justa e mais humana”.

Uma das organizadoras do evento, a major Franciane Alves de Siqueira comemorou o sucesso da empreitada. “Se a gente pudesse colocar numa balança, o nosso evento estaria com 100% de conquistas, porque cada evento que a gente consegue concretizar é uma semeadura para uma colheita daqui a alguns anos de políticas internas voltadas para a equidade dos nossos profissionais, para que todos tenham condições de trabalho, condições de saúde mental, estrutura física adequada”, resumiu.

A importância de se levantar o debate sobre o ambiente de trabalho para as bombeiras militares se explica pelo contexto histórico. A participação feminina na Corporação começou, em termos nacionais, em 1990. No Paraná, a entrada das mulheres é bem mais recente, ocorrida somente a partir de 2005. “São inúmeras as dificuldades enfrentadas. Na atividade bombeiro militar, diante desafios da profissão e da desigualdade de gênero na sociedade, percebeu-se que era necessário unir forças para melhorar este cenário”, contou a tenente Ivna Caroline Dias, uma das organizadoras da atividade. “Então, de forma técnica e científica, a promoção deste evento busca levar ao comando estas necessidades de adequações”, complementou.

Sugestões de adequações administrativas, organizacionais ou operacionais que são fruto desse encontro e das inúmeras interações e reflexões proporcionadas por ele. Daí a relevância de se promover o evento, como explicou a tenente Ivna. “O Enebom é muito importante para as bombeiras militares do Paraná, pois, como instituição pertencente à segurança pública, promovemos discussões de assuntos pertinentes e essenciais ao desenvolvimento de um ambiente laboral saudável e livre de todas as modalidades de assédio, bem como ajudamos a fomentar processos que garantam a equanimidade”. Ela destacou ainda que a melhoria nas condições de trabalho das militares reflete diretamente na sociedade, com o aumento da qualidade no atendimento à população.

Embora promovida pelo CBMPR, a oportunidade de discussão abrange uma realidade bem mais ampla, encontrando eco tanto nas outras forças de segurança quanto na sociedade civil. Por isso, para a major Márcia Bobko Bilibio, da Polícia Militar do Paraná, uma das palestrantes do evento, o resultado dessa atividade é tão relevante. “O evento foi fantástico. Tivemos a oportunidade de ouvir várias falas congruentes de profissionais diferentes. Isso me parece um sinalizador do caminho que nós temos que seguir. Quando temos as mesmas ideias sendo propagadas por roupagens diferentes, me parece um sinal de que é isso que nós devemos perseguir”, comentou, resumindo a principal conquista do encontro: a reflexão.

“Todo espaço de reflexão é sempre muito importante. Estamos sempre muito envolvidos com as nossas atividades, com as catástrofes, com as ocorrências, e poder parar para pensar e refletir e trocar ideias acerca de temas tão sensíveis, me parece o primeiro passo para que a gente possa evoluir, para que possamos reconhecer onde estivemos, onde estamos e onde queremos chegar como instituição, como homens e mulheres dentro de uma instituição”, resumiu a major.

Discussões – A palestra de abertura foi ministrada pelo deputado federal mineiro Pedro Aihara, ex-porta-voz do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, seguido pela Coronel Vanízia Souza Santos Camilo, do Corpo de Bombeiros Militar de Roraima. Nos dois discursos, o tema abordado foi: “Políticas institucionais para ingresso e condições de equanimidade das corporações bombeiro militar do Brasil”. Primeira mulher a se tornar coronel no país, ela falou sobre as dificuldades e a importância de ser pioneira na carreira e sobre a criação e o trabalho do Comitê Nacional de Bombeiras Militares. Já o parlamentar apresentou uma visão mais voltada à legislação e ao cenário atual dentro da instituição.

“A gente só consegue promover uma maior igualdade, um maior acesso dessas mulheres a todas as estruturas de Justiça, às estruturas profissionais, se a gente dialoga. Então esse momento aqui é um momento da gente dialogar de forma muito responsável, de forma muito propositiva, como é que a gente pode fortalecer esses mecanismos e também entender o que precisa ser modificado”, afirmou o deputado federal.

Já para a coordenadora de Fomento ao Protagonismo Feminino da Secretaria da Mulher, Igualdade Racial e Pessoa Idosa do Estado do Paraná, Larissa Marsolik, que falou a respeito do “Protagonismo Feminino e Desafios Institucionais”, a palavra-chave é empoderamento. “Quando a gente empodera meninas e mulheres, a gente empodera e transforma a comunidade”, propõe. “Quando a gente empodera essa servidora bombeira, militar, a gente também está transformando essa Corporação, essa força da segurança pública, trazendo uma cara, um sentimento, uma compreensão de igualdade de gênero para o nosso Estado. E é isso que a gente está buscando na Secretaria”, concluiu.

A programação do primeiro dia terminou com uma palestra com uma linha do tempo minuciosa sobre a “Evolução da mulher na sociedade e nas instituições de Segurança Pública”, realizada em conjunto pela Major Márcia Bobko Bilibio e a Capitã Carolina Zancan, ambas da Polícia Militar do Paraná. A explanação terminou com uma mensagem sobre não brigar com o passado e concentrar a energia em construir o futuro. 

“Temos que usar as experiências do passado, tudo aquilo que os nossos antecessores lutaram, inclusive os erros, para que a gente possa construir os acertos do futuro. A organização periódica desses eventos, com momentos de reflexão e conscientização, são um ótimo caminho para que a gente possa ter mudanças efetivas para avançar, mesmo que lentamente, rumo à evolução institucional, quando a gente fala em igualdade, equidade e, principalmente, gestão de competências”, avaliou a major Márcia Bobko Bilibio.

O segundo dia teve uma mesa-redonda sobre “Saúde Física e Mental das bombeiras militares”, com mediação da major Franciane Alves de Siqueira. O chefe do Centro de Educação Física e Desporto do Corpo de Bombeiros (CEFID-CBMPR), capitão Giovanni Raphael Ferreira, falou sobre as diferenças físicas entre homens e mulheres, as implicações disso nos testes realizados na Corporação e sobre a importância da realização das atividades físicas para uma vida plena e saudável. 

A conversa sobre saúde mental foi protagonizada pela 3º sargento Juliana Mazzadri Zanello, que trouxe de maneira franca e emocionante um depoimento sobre como superou a depressão e duas tragédias pessoais, com grande ajuda das atividades físicas.

As participantes do 2º Enebom receberam certificados proporcionados pela Escola de Gestão do Paraná.

 

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