A história do SIATE

Ambulâncias do SIATE no desfile de 7 de Setembro de 2023.

 

O Sistema Integrado de Atendimento ao Trauma em Emergência (SIATE) começou a ser concebido em 1988, quando o governo do estado estabeleceu uma comissão para tratar da implantação do projeto-piloto de um serviço inédito no Brasil. A iniciativa, que tinha como parceira a prefeitura de Curitiba e a Universidade Federal do Paraná (UFPR), consistia na adoção de um novo modelo de atendimento pré-hospitalar, dedicado ao resgate e assistência às vítimas de trauma, como acidentes de trânsito e violência interpessoal.

Antes de sair do papel, o projeto foi minuciosamente estudado durante um ano e meio. Nesse período, a equipe responsável pela elaboração dos protocolos e fluxos de atendimento, teve apoio de consultores da cidade de Cleveland, em Ohio, nos Estados Unidos. A bem-sucedida experiência norte-americana nessa área serviu de inspiração para o modelo paranaense. O SIATE viria a ser criado, oficialmente, em 29 de março de 1990, tendo sua área de atuação, naquele momento, restrita à capital do estado. O primeiro atendimento ocorreu no dia 26 de maio daquele ano – em oito minutos, uma senhora que havia se intoxicado com água sanitária foi atendida e encaminhada ao hospital.

O surgimento de um serviço que centralizasse esse tipo de atendimento de socorro era vital para garantir o mínimo de qualidade nessas ações delicadas. Até então, as vítimas de trauma não tinham à disposição infraestrutura e protocolos adequados, sendo transportados aos hospitais em carros normais, o que provocava uma série de intercorrências antes, durante e após os resgates.

Se o cenário não só permitia, como já exigia, uma estrutura voltada para a resposta a acidentes dessa natureza, cada vez mais frequentes, a questão logística era um desafio importante. Nem as ambulâncias, nem a maior parte dos equipamentos que seriam usados pelos socorristas no dia a dia eram produzidos no país.

Aprender, fazendo - Não à toa, os primeiros anos de atividade do serviço, operacionalizado pelo Corpo de Bombeiros Militar do Paraná (CBMPR), foram marcados pelo "aprender a fazer, fazendo". Profissionais de saúde e bombeiros paranaenses atuantes nas urgências e emergências foram convidados para formar a primeira turma de socorristas. Apesar de serem profissionais competentes e acostumados a situações estressantes, o período era de novidades, principalmente em relação aos equipamentos.

No início, era necessário importar itens hoje considerados básicos, como colares cervicais, talas e cintos para imobilização. Mais tarde, foi preciso encontrar uma empresa no país que estivesse disposta a produzir esses materiais, essenciais para equipar as ambulâncias.

As ambulâncias, inclusive, são um capítulo à parte no processo de criação e consolidação do SIATE. Os veículos foram sendo aperfeiçoados para atendimento pré-hospitalar de acordo com as dificuldades encontradas nas operações de campo.

O primeiro esboço foi a Auto-Ambulância Número 4 (AA 04 - designação operacional da unidade no Corpo de Bombeiros), desenvolvida por alunos e professores do então Cefet (Centro Federal de Educação Tecnológica), atual UTFPR (Universidade Tecnológica Federal do Paraná). Eles usaram como base uma antiga ambulância cedida pelo Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (UFPR). O protótipo circulou de forma experimental pelas ruas de Curitiba, com socorristas em treinamento, antes do sistema ser oficialmente implantado.

Veio então a Auto-Ambulância Número 3 (AA 03), primeira fabricada especialmente para o serviço, montada em uma carroceria de caminhão médio, precursor dos atuais furgões comerciais utilizados. Seu projeto foi desenvolvido com base nos estudos realizados pelo Cefet, em parceria com os médicos e bombeiros do SIATE, e permaneceu durante vários anos como principal unidade do serviço. Foi ainda a ambulância que realizou o primeiro atendimento oficial do novo serviço. Por sua robustez, se manteve em operação, primeiro em Curitiba, e posteriormente, em Paranaguá, por mais de 15 anos.

A AA 03 era equipada com instalação de oxigênio, sistema elétrico e parte do mobiliário das ambulâncias convencionais fabricadas em outros lugares do mundo. A maca de atendimento foi construída sem que houvesse similar no mercado nacional. O veículo foi de extrema importância para que os profissionais pudessem verificar quais eram as principais limitações e necessidades do dia a dia. A partir dessas avaliações diárias, surgiram diversos projetos de novos modelos de ambulâncias.

Interior de uma ambulância do SIATE (2024).

 

Made in Brazil - Quando as grandes empresas começaram a produzir ambulâncias dentro do Brasil, os socorristas já sabiam qual modelo melhor atenderia o SIATE. Todo o processo de fabricação era acompanhado pela equipe técnica, composta por médicos e bombeiros, junto aos fabricantes. Essa rotina é respeitada até os dias atuais, garantindo a adequação dos veículos às necessidades de pacientes e equipe.

Com o sucesso do serviço em Curitiba, ele foi paulatinamente sendo estendido aos principais municípios do Paraná, num processo conhecido como Interiorização do SIATE – a partir do trabalho da mesma equipe técnica que realizou a implantação em Curitiba. Em 1995, foram contempladas as seis primeiras cidades dentro dessa expansão: São José dos Pinhais, Londrina, Maringá, Cascavel, Foz do Iguaçu e Ponta Grossa.

Em dezembro de 2021, foi assinado entre a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) e a Secretaria de Segurança Pública (Sesp) – por meio do CBMPR – um termo de cooperação técnica estadual para unir competências e responsabilidades pela manutenção do SIATE. A atividade passou a ser regulada pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), unificando a base de dados de atendimentos de Urgência e Emergência Estadual. Possibilitou ainda o compartilhamento e a implantação da Rede de Rádio Digital da Rede de Atenção à Urgência (RAU), com cobertura de 100% do território paranaense.

Ao mesmo tempo, o serviço também foi inserido no contexto da Política Nacional de Atenção às Urgências, permitindo juridicamente a participação dos municípios em seu custeio, com a utilização de recursos do fundo municipal de Saúde.

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